Tratamento osteopático para os nervos cranianos

Escrito por: Márcio Valsechi

O conceito osteopático tem se mostrado de grande utilidade na resolução de alguns comprometimentos vinculados aos nervos cranianos. Até bem pouco tempo atrás, existia uma lacuna no tratamento dos nervos cranianos, pois ainda não havia ferramentas voltadas especificamente para o tratamento dessas estruturas.

Os nervos cranianos, assim como os nervos espinhais, possuem feixes de fibras sensitivas ou motoras que inervam músculos ou glândulas. São denominados cranianos, pois emergem de forames e fissuras cranianas, sendo cobertos por bainhas tubulares derivadas das meninges cranianas.

Existem 12 pares de nervos cranianos, sendo numerados de I a XII, de forma cefalocaudal, de acordo com sua fixação no encéfalo ou penetração na dura-máter. Seus nomes refletem sua distribuição geral ou função.

A tabela a seguir resume a relação de inervação. As colunas demonstram o tipo de sensibilidade, localização dos corpos de neurônios, saída do crânio e principais ações.

Praticamente todos os nervos cranianos emergem da região ventral do encéfalo, exceto o nervo troclear, que emerge da superfície posterior. Esses nervos estão concentrados em sua maioria nas fossas posterior e medial.

Durante os trajetos intracraniais, os nervos são revestidos pela pia-máter. Quando chegam aos forames, estão bem protegidos e recebem revestimento da aracnoide e dura-máter. Isso faz com que tensões mínimas nos tecidos durais influenciem as estruturas que passam por esses forames.

Os principais orifícios que são atravessados pelos nervos cranianos são a fissura orbitária superior, o forame jugular e o forame occipital (magno).

Avaliação

A avaliação é feita por meio da anamnese, em que o paciente relata seus sintomas ao terapeuta, inspeção e teste de palpação auscultatória do crânio.

Geralmente, o relato do paciente relaciona-se com aumento ou diminuição da sensibilidade do nervo afetado e/ou diminuição da função exercida por esse nervo (olfato, visão, audição e paladar).

Durante a inspeção, são observadas as assimetrias existentes nas estruturas cranianas.

No teste de palpação auscultatória, o terapeuta irá encontrar uma alavanca longa, que desliza horizontalmente de forma muito precisa e com parada abrupta.

Tratamento

Os nervos cranianos são muito sensíveis a estímulos de pressão. Isso ocorre devido a sua autoinervação, realizada pelos nervi-nervoruns. Por isso, é importante que o terapeuta, durante as técnicas de tratamento, seja o mais sutil possível.

Entretanto, antes de iniciar o tratamento dos nervos cranianos, indica-se a liberação dos ossos e das membranas cranianas (principalmente dura-máter), pois elas os influenciam diretamente.

Os tipos de técnicas utilizadas para o tratamento desses nervos são variados. A seguir, os tipos de técnicas que podem ser utilizados.

  • Estrutural: deve-se levar o nervo no sentido de sua correção. Utilizada para as aderências dos tecidos perineurais, na passagem pelos orifícios cranianos.
  • Funcional: deve-se levar o nervo no sentido da facilidade.
  • Indução: deve-se seguir os tecidos para o sentido indicado pela palpação. O terapeuta não decide o sentido, e sim quem o orienta são os tecidos.
  • Viscoelástica: deve-se comprimir e descomprimir o nervo, suavemente e de forma oscilatória. Aplica-se essa técnica em pontos com maior endurecimento. Obs.: essa técnica também pode ser realizada para o cérebro, aplicando compressões e descompressões, oscilando a pressão intracraniana.
  • Cutânea: deve-se realizar sutilmente uma técnica de pinçado-rodado da pele. Essa técnica produz um grande efeito reflexogênico.

O tratamento desses nervos tem como finalidade diminuir as pressões intraneural e intracraniana, reduzir as aferências neurais provenientes dos nervi-nervoruns, regular o tônus dos vasos que irrigam os nervos, restaurar a mecânica de expansão neural distal e, principalmente, devolver a função normal aos sentidos especiais: visão, audição, olfato e paladar.

São indicados ao tratamento qualquer alteração mecânica ou funcional dos nervos cranianos, bem como fixações da dura-máter e das suturas cranianas, enxaquecas com componentes vasculares trigeminais, congestões venosas pós-cefaleias, sinusites, roncos, vertigens, alterações no sistema sensorial, disfunções oculares, pós-traumas, cirurgias, otites, paralisias faciais, hemiplegias, entre outros.

Entretanto, é contraindicado o tratamento nos casos de aumento da pressão intracraniana, diabetes, aneurismas cerebrais e hipertensão arterial grave.

Referências

Barral JP, Croibier A. Manual therapy for the cranial nerves. London: Churchill Livingstone Elsevier; 2009.

Moore KL, Dalley, AF. Anatomia orientada para a clínica. 5. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2006.

Netter FH. Atlas de anatomia humana. 5. ed. Saunders Elsevier; 2011.

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