Osteopatia no esporte de alto rendimento – Estudo de caso

Osteopatia no esporte de alto rendimento

Tratamento osteopático em paciente atleta de alta performance com dor intensa em ambos os joelhos

Em diversos países, o osteopata já faz parte da equipe multidisciplinar de atletas de alto nível. Alguns exemplos: no tênis, os jogadores recebem atendimentos até durante as partidas; no futebol, o fisioterapeuta do clube de futebol Real Madrid é osteopata e professor da Escola de Osteopatia de Madrid; no atletismo, o ex-atleta brasileiro de salto triplo Jadel Gregório já utilizou a Osteopatia para se recuperar de lesões. Enfim, no mundo atual, cada vez mais os osteopatas estão sendo procurados pelos atletas. No Brasil ainda é restrito, mas, na Europa, essa é uma conduta bastante comum

Neste caso clínico, foram feitos atendimentos em um atleta de alto rendimento da modalidade Decatlo, que, como o nome indica, consiste em 10 provas de atletismo.

Nome: Yuri da Silva Ventura, sexo masculino, 24 anos

Profissão: Atleta (Atletismo)

  • QP – Dor infrapatelar em ambos os membros.
  • QS – Dor lombar não constante, mas aparece quando faz muito esforço nos treinamentos.
  • História Paciente relatou que começou a sentir dor há quatro anos, no início era bem leve e foi aumentando com o passar dos anos. Não teve episódio de trauma, porém notou que a dor iniciou quando alterou o seu treinamento (intensificou).

Afirmou que sente dor o dia todo, porém ela se intensifica durante os treinamentos e de duas a três horas após os treinamentos. Já fez alguns tratamentos fisioterápicos que melhoraram os sintomas, porém as dores permaneceram.

  • Inspeção EstáticaAlteração no plano sagital e anterioridade de tronco.

Inspeção Dinâmica – No Teste de Mobilidade Global – TMG (flexão de joelhos), o paciente apresentou dor em ambos os joelhos (8 EVA).

TMG do atleta confirmou dores nos joelhos
  • Testes Referenciais
  • Por meio desses testes podemos definir qual o sistema de disfunção primária ou mais relevante, e assim nos guiar para uma abordagem precisa de tratamento.
  • Manobra de convergência podal (positivo sistema visceral).
  • Ausculta Visceral Local (bexiga urinária).
  • Teste Funcional
  •   Teste de Mobilidade Global: dor 8.
  • Teste de Mobilidade Global Lift na bexiga: dor 3.
  • Tratamento
  • 1º atendimento
  • Após identificarmos a bexiga urinária como sendo a disfunção primária ou de maior relevância para o caso em questão, o tratamento foi guiado para um Trabalho Osteopático Visceral.
  •  Técnica de mobilidade com utilização de alavanca inferior (MMII).
  • Avaliação e correção da motilidade da bexiga.
  • Teste de Mobilidade Global (flexão dos joelhos).
  • Diminuição dos sintomas de 8 para 4.

Relações: Simpática e Parassimpática da bexiga urinária.

Inervação da bexiga urinária

Fibras parassimpáticas para a bexiga urinária são derivadas dos Nn. esplâncnicos pélvicos (S2-S4). Elas são motoras para o M. detrusor da bexiga e inibidora para o M. esfíncter interno. Por essa razão, quando fibras aferentes viscerais são estimuladas por estiramento, a bexiga urinária se contrai, reflexamente, o M. esfíncter interno se relaxa e a urina flui para a uretra.

Fibras simpáticas para a bexiga urinária são derivadas dos nervos de T10 a L2. Os nervos que suprem à bexiga urinária formam o plexo nervoso vesical, que consiste em fibras simpáticas e parassimpáticas. Esse plexo, um dos diversos plexos nervosos da pelve, é constituído com o plexo hipogástrico inferior.

Após o tratamento da bexiga urinária, foram avaliados os segmentos que têm relações simpáticas e parassimpáticas com a bexiga urinária.

Disfunções Musculoesqueléticas

Foram encontradas disfunções musculoesqueléticas e corrigidas.

  • FRS / L3 – Direita
  • Posterioridade Unilateral Base Direita do Sacro

Teste de Mobilidade Global (flexão dos joelhos) após o primeiro atendimento.

Paciente relata diminuição dos sintomas de 4 para 2.
  • 2º Atendimento

Antes de iniciar a segunda sessão, o paciente afirmou que conseguiu treinar sem sintomas, especialmente realizar o salto, movimento que mais causava desconforto, e após o tratamento não sentiu dor alguma. Também relatou que se sentiu mais seguro e mais confiante para competir.

Teste de Mobilidade Global (flexão de joelho): apresentou dor 3 somente no joelho direito, no esquerdo não apresentou sintomas.

  • Testes Referenciais
  • Manobra de convergência podal: positivo para o sistema musculoesquelético.
  • Avaliação do sistema musculoesquelético, que possa ter relação anatômica ou metamérica com o sintoma do paciente.
  • Disfunções encontradas: ERS L3 direita, ilíaco posterior unilateral direito, perda de complacência neural em ambos os membros.

Após as correções, novamente foi realizado o Teste de Mobilidade Global, e o paciente não apresentou sintomas no joelho direito.

  • 3º Atendimento

O paciente chegou muito animado, porque conseguiu fazer seus treinamentos sem apresentar sintomas, principalmente na modalidade que apresentava maior intensidade de dor, ele conseguiu saltar sem sentir nenhum desconforto. Ainda relatou que conseguiu aumentar sua marca de salto e que estava muito motivado para competir no fim de semana.

Teste de Mobilidade Global (flexão de joelho): o paciente não apresentou dor em nenhum dos joelhos.

  • Após reavaliar o sistema musculoesquelético, não foram encontradas disfunções artrocinemáticas, porém ainda apresentou perda de complacência.
  • Como o paciente iria competir no dia seguinte, foram utilizadas técnicas sutis (mobilização neural periférica e técnica de comprimir/descomprimir para o joelho).

FLEXÃO DE JOELHO (SEM SINTOMAS)

Após 45 dias de tratamento, o relato do paciente foi surpreendente e gratificante: “Bom dia, Carlos, queria agradecer novamente! Foi ótimo. Consegui fazer a melhor marca da minha vida! Obrigado”.

Texto elaborado por: Carlos Cincinato Gomes

Docente da Clínica-Escola de Osteopatia Idot

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