CAPTOR PODAL E A ESTABILIZAÇÃO POSTURAL

Por ANNA CLAUDIA LANÇA, CEI.

É um sistema automático que trabalha para manter o corpo em pé com uma oscilação mínima (1 a 4 graus) em relação ao ambiente externo.

Para mantermos o equilíbrio é importante, é importante que esse sistema seja alimentado por entradas sensoriais que recolhem informações tanto do mundo externo (exosenssores) quanto as provenientes do nosso próprio corpo (endosenssores), assim teremos a integridade da saída do sistema postural (manutenção do corpo oscilando minimamente) e, consequentemente uma boa estabilização postural, com mínimo custo energético.

Os pés são a interface entre o corpo e o solo, através desse captor percebermos e interagimos com nosso ambiente.
Para ficarmos em pé, em uma posição tranquila, necessitamos de uma base (estrutura) sensorial podal íntegra, que nos permite um bom controle e uma boa estabilização postural. Os pés são considerados o input primário do sistema postural, eles nos informam sobre a posição do corpo no solo, podemos dizer que o captor podal é a estrutura mais importante quando estamos em pé (na posição de bipedestação). Por isso, a manipulação dessa entrada podal pode modificar toda a postura do indivíduo.
Para manipular a entrada podal, ou seja, modificar as informações percebidas pelos sensores dos pés, é importante que tenhamos conhecimentos deles. Podemos ter dois tipos de sensores podais:

● Exteroceptivos: sensores que captam informações do meio ambiente externo, ou seja, nos dão informações da posição do nosso corpo em relação ao ambiente. Estão localizados na pele da planta dos pés e respondem às variações de pressão menor de 1 grama.

● Proprioceptivos: sensores que nos informam sobre uma parte do nosso corpo em relação as outras. Esses receptores permitem saber a posição, os movimentos das articulações, bem como a tensão muscular.

Ambos os receptores (extero e proprioceptivos) transmitem informações para o tronco cerebral, cerebelo e cérebro através da medula espinhal.

Imagem: nervo tibial e suas ramificações. Fonte: Visibli Body (Human Anatomy Atlas)

No nível da planta dos pés, esse conjunto de receptores transmitem informações das variações de pressões exercidas na planta dos pés.
Em resposta a essa informação sensorial, as reações posturais são iniciadas através dos músculos posturais plantares.
Um exemplo disso, quando estamos em apuros, caindo, esses músculos plantares aumentarão sua atividade, ou seja, para toda ameaça postural haverá um aumento da atividade muscular plantar.
O feedback ocorrerá no nível cutâneo através dos mecanorreceptores e o muscular através dos proprioceptores.

Imagem: receptores cutâneos da planta dos pés.
Fonte: Cutaneous afferent innervation of the human
foot sol.pdf

As aferências somestésicas e eferências musculares do pé contribuem para a manutenção da postura ortostática.
Esses dois tipos de informações sensoriais e motoras são asseguradas pelo nervo tibial, ou seja, qualquer disfunção do nervo tibial, poderá repercutir no feedback sensorial ou na resposta muscular, ou nas duas coisas.

Imagem: nervo tibial e suas ramificações
Fonte: Visibli Body (Human Anatomy Atlas)

Tipos de disfunções podais:

Os pés contribuem para a manutenção da posição bípede e estabilização postural através de um aspecto biomecânico e sensorial.

● Disfunção podal biomecânica
Deformidades dos retropés e antepés que poderão descompensar ou não o conjunto postural.

Exemplos: pés valgos, pés planos, pés varos e pés cavos.
Para ficar mais simples, é muito frequente nos consultórios encontrarmos pés valgos, rotação interna dos eixos tíbio-femoral, antiversão da pelve, aumento da flecha lombar e projeção do centro de gravidade posterior.

● Disfunção podal sensorial

São alterações do sistema sensorial/sensitivo através do nervo tibial, podendo descompensar inicialmente o arco inferior e posteriormente todo conjunto postural e estabilidade. Essas disfunções podais podem iniciar todas as alterações posturais (causa primária) ou serem consequências de alguma desregulação dos sensores superiores (causa secundária) e que, em razão disso, agora os pés se adaptam e se fixam nessas informações errôneas plantares.

Um exemplo clássico deste tipo de disfunção podal é um paciente com plano escapular anterior, ou seja, o centro de gravidade do paciente é projetado para frente por uma alteração visceral, por exemplo, mudando as
informações de pressões plantares.

Sintomas do captor podal

Os sintomas mais frequentes do captor podal, são dores crônicas no aparelho locomotor, principalmente no arco inferior (pés, joelhos, quadril e coluna lombar), coluna vertebral, além de associar com uma característica típica deste captor, que é o aparecimento da sintomatologia ao ficar em pé.

Sintomas típicos:
● Ciática;
● Lombalgia;
● Dor nos joelhos (meniscal, fêmur-patelar);
● Dor nos pés (esporão de calcâneo, fasceíte plantar);
● Além de sintomas neurovasculares como pernas pesadas, cansadas, formigamentos.

Avaliação

A avaliação do captor podal deve ser realizada inicialmente de forma global, ou seja, avaliando todo conjunto postural através
dos testes:
● Posturo-estático;
● Posturodinâmico;
● Romberg postural;
● Manobra de convergência podal. Posteriormente seguimos a avaliação locoregional, através dos testes:
● Apoio bipodal: onde avaliamos a posição do retropé.

● Apoio unipodal: avaliamos o comportamento do retropé.

Importante dizer que devemos sempre avaliar os pés, joelhos, o posicionamento da pelve, curvatura lombar e a posição do plano escapular. Esses critérios são de suma importância para um bom diagnóstico das palmilhas posturais.

Tratamento

Inicialmente e independente dos diagnósticos das palmilhas, é muito importante investigarmos as vias de comunicação neuronal, ou seja, investigar se as informações podais e de todo corpo estão adequadas através do sistema Nervoso Periférico (SNP), por meio de testes de referências neurais, neurovasculares.

A partir disso, colocamos as palmilhas testes e refazemos os testes posturais globais que citamos acima. Se for necessário continuaremos nossa abordagem através dos testes:

● Espinha Irritativa de apoio plantar;
● Teste da Perna Curta;
● Derrotação de quadril.

Esses testes serão realizados após a colocação das palmilhas testes e são muito importantes para o diagnóstico dos obstáculos posturais podais.

Conclusão

O homem deve se adaptar em relação à força da gravidade, para isso, ele utiliza seu sistema postural. A desregulação deste sistema pode gerar diversas sintomatologias como dores de cabeça, lombalgias, tendinites, entre outras.
Um dos principais reguladores deste sistema postural são os pés, graças a riqueza de sensores sensíveis a pequenas pressões existentes sob a sola e, que uma vez alterados, podem gerar diversas sintomatologias e consequências posturais.

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